Sempre tive muita dificuldade em escolher minha “coisa” favorita – fosse ela uma música, um filme, um lugar. Com livros, sou exatamente igual, tenho um top 5 que está constantemente sendo atualizado.
Um livro em especial não sai de lá há algum tempo – então nada mais justo do que ele ser minha primeira recomendação. “A Elegância do Ouriço”, de Muriel Barbery, me cativou de tal maneira que digo que, por hora, este é o meu livro predileto.
“Gabi, sobre o que é esse livro tão especial para você?”
Vamos à sinopse. “A Elegância do Ouriço” se passa no palacete número 7 da Rue de Grenelle, em Paris. Lá, residem as personagens principais da história: Renée Michel, a zeladora do edifício, e Paloma Josse, a filha mais nova do casal do quinto andar.
O livro é uma combinação dos diários de ambas as mulheres. Renée, à superfície, se molda ao clichê da zeladora parisiense: rabugenta e insignificante perante os moradores. Somente os leitores a conhecem verdadeiramente: uma mulher refinada, apreciadora de música clássica, filosofia e literatura russa. A arte é seu refúgio e, segundo ela própria, tudo o que lhe resta.
Por outro lado, Paloma Josse é a filha superdotada e altamente reflexiva do casal Josse. Com 12 anos, a menina está determinada a se suicidar no dia de seu aniversário caso não encontre um sentido para a vida. Ela divide seu diário em seções intituladas “O Movimento do Mundo” e “Pensamentos Profundos”, onde faz duras críticas à alta sociedade, ao esnobismo e à pose de sua família. No começo do livro, as histórias das personagens parecem distantes, mas convergem ao longo da obra e culminam em um final abrupto e inesperado, representando a brevidade da vida.
Por que eu gostei?
Em primeiro lugar, por ter se encaixado perfeitamente no momento em que o li. Durante a pandemia, com muito tempo a sós comigo mesma, suas reflexões acabaram me tocando profundamente.
Além disso, o livro é extremamente inteligente e, por mais que à primeira vista não pareça, bem-humorado. A autora questiona diversos padrões socialmente impostos e nossa forma de encarar o mundo. Há divagações sobre o tempo, a vida e a morte. Todos esses temas extremamente complexos são abordados de maneira leve e filosófica.
Grande parte das minhas passagens favoritas pertencia ao diário de Paloma. Ler críticas tão contundentes à sociedade feitas por uma menina de 12 anos acaba sendo, no mínimo, cômico.
Aproveitei a leitura do começo ao fim, sem ansiedade pelo desfecho que, em minha opinião, se encaixou perfeitamente na história.
"Porque o que é bonito é o que captamos enquanto passa. É a configuração efêmera das coisas no momento em que vemos ao mesmo tempo a beleza e a morte. Ai, ai, pensei, será que isso quer dizer que é assim que temos de viver a vida? Sempre em equilíbrio entre a beleza e a morte, o movimento e seu desaparecimento? Estar vivo talvez seja isto: espreitar os instantes que morrem."
Muriel Barberry Tweet
“Alguma ressalva, Gabi?”
Gostaria de aproveitar este espaço para fazer uma pequena reflexão sobre leitura. Tendo questionado pessoas que afirmam não gostar de ler, acredito que elas ainda não entenderam exatamente com que tipo de leitura se identificam.
Acredito que livros, assim como qualquer forma de entretenimento, ganham significado quando estão alinhados com a personalidade do indivíduo. Por exemplo, eu, que sou muito agitada, não gosto de filmes demorados e sem muita ação. No entanto, sou extremamente emotiva, reflexiva e temas relacionados a propósito e vida versus morte me tocam profundamente. Nesse sentido, a obra “A Elegância do Ouriço” ressoa com minha essência.
Por isso, recomendações são altamente subjetivas. Um de livro tido como “maravilhoso” por um, pode não significar absolutamente nada para você 😉
Convido vocês, especialmente aqueles que ainda não se sentiram envolvidos por nenhum livro em particular, a refletirem sobre isso.