“Pressão é um privilégio”, afirmou Billie Jean King, a icônica atleta que liderou a campanha pela igualdade de premiações entre homens e mulheres no tênis. Essas são as palavras gravadas na entrada da quadra central do torneio US Open. As últimas que o jogador lê antes de começar sua partida.
O US Open é um dos quatro principais eventos anuais do Tênis, os chamados Grand Slams, e com certeza, jogar uma partida de pelo menos 2h, sozinho em quadra e com 15 mil olhares sobre você não deve ser nada fácil.
Gosto bastante de assistir tênis – não só pelo entretenimento, mas também por ter fascínio pelo aspecto mental que acompanha a prática de esportes individuais. Penso em como deve ser sustentar uma partida, sendo ao mesmo tempo seu próprio sistema de apoio e seu pior adversário.
Recentemente, assisti à série documental ‘O Mundo x Boris Becker’ (título em inglês: ‘Boom! Boom!: The World vs. Boris Becker’). Ela é dividida em 2 capítulos narrando a ascensão meteórica e queda de igual intensidade do tenista Boris Becker.
Becker é alemão e teve uma carreira singular, tornando-se, aos 17 anos, o mais jovem campeão de Wimbledon (outro Grand Slam) e uma celebridade em seu país de origem. O documentário acompanha a luta do jovem contra seus próprios demônios, a pressão para manter sua relevância e atender às expectativas de uma legião de fãs em uma época em que saúde mental não era um tópico amplamente discutido. Além de uma história turbulenta dentro das quadras, fora delas Becker foi preso no ano passado por evasão fiscal.
O primeiro capítulo, meu favorito e o qual gostaria de indicar, explora profundamente o impacto da pressão sobre Becker. Como um adolescente, que chegou ao tão cobiçado pódio de um Grand Slam tão cedo, lida com as expectativas – próprias e alheias – diante do mundo inteiro?
É impressionante ver como, ao canalizar tal energia de forma positiva, a transforma em vitória, alimentando ainda mais a pressão que sente. Da mesma forma, quando a pressão se torna uma carga muito grande para suportar, ele vira seu pior inimigo e é derrotado, antes mesmo da quadra, pela sua própria cabeça.
Um exercício que sempre faço ao consumir qualquer tipo de conteúdo é entender se, de alguma forma, existe algum paralelo entre o que li ou assisti com o meu dia a dia, mesmo que em menor escala 😆
Documentários relacionados ao esporte geralmente me ensinam lições relacionadas à consistência e disciplina. No caso do tênis, gosto bastante do conceito de “Mental Toughness” (algo como firmeza mental, na tradução literal) usado bastante por seus jogadores. Estando praticamente sozinhos durante os momentos mais importantes de suas carreiras, em um esporte em que um momento de desconcentração pode te custar todo o jogo, a compostura e o foco são primordiais.
Conseguir “reiniciar” sua cabeça depois de uma má jogada ou de perder um ponto em que você deu tudo de si é chave para seguir no jogo. Mesmo quando não temos tanto em jogo quanto o finalista de um campeonato mundial, é importante conhecer a si mesmo o suficiente para criar válvulas de escape de situações de alta pressão – nem que seja ir tomar um café na copa para sair de um loop de frustração ou arejar os pensamentos para fomentar a criatividade.
Manter-se firme e não jogar a toalha são traços comuns dentre os campeões, e acredito que todos nós tenhamos espaço para melhorar nesses quesitos – haja terapia! 😆